quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Inclusão ou discriminação das crianças com necessidades especiais

Quem tem filhos com necessidades especiais, ou lida com estas crianças no dia-a-dia, sabe que a inclusão é um tema da actualidade, nomeadamente a revogação da Portaria n.º 275-A/2012, por se considerar que “constitui um retrocesso nos desígnios de uma sociedade inclusiva, condicionando a aprendizagem e a profissionalização de muitos dos jovens com necessidades educativas especiais”.

A verdade é que estas crianças, apesar das algumas dificuldades inerentes aos seus problemas individuais, têm os mesmos direitos que qualquer outra criança dita "normal", sendo a normalidade muito relativa. E quando me refiro a direitos falo de direitos inscritos na Convenção sobre os Direitos da Crianças, adoptado em 20 de novembro de 1989 pelas Nações Unidas e ratificado por Portugal em 21 de setembro de 1990.

Neste post pretendo dar relevância a dois dos pilares fundamentais da Convenção:
- a não discriminação, segundo o qual todas as crianças têm o direito de desenvolver todo o seu potencial – todas as crianças, em todas as circunstâncias, em qualquer momento, em qualquer parte do mundo e
- o superior interesse da criança que deve ser uma consideração prioritária em todas as acções e decisões que lhe digam respeito.

Ora bem...
É do conhecimento de muitos que tenho um filho com autismo, associado a um atraso global do desenvolvimento. 
Há cerca de duas semanas fomos a mais uma das consultas de desenvolvimento a que o Martim vai com regularidade. Admiravelmente, ao contrário do que tem sucedido, fomos recebidos pela médica e não pela psicóloga que nos últimos dois anos (garantidamente, para não dizer mais) lhe tem feito as consultas.

Correu tudo muito bem quando pediram ao Martim para escrever o nome e fazer uma conta de somar, mas ao lhe apresentarem uma conta de subtrair, que ele não conseguiu fazer, a mudança foi grande.

- Isto não é importante para este menino! - enquando se retirava rapidamente o material escolar - Ele tem é que trabalhar a autonomia. A parte académica não é importante.
 
E eu questiono: A parte académica não é importante porquê? 

O meu filho tem dificuldades mas também tem capacidades. Obviamente que só conseguirá desenvolver essas capacidades com trabalho e empenho, dele e das pessoas que o acompanham no seu percurso. Pessoas que não acreditam nas suas potencialidades e o dizem em frente de professores do ensino especial, dão-lhes uma enorme moral para pouco acreditarem e pouco fazerem. 

A acrescentar a isto só o facto de eu saber que o médico em causa acompanha, consulta a consulta, todas as crianças dentro do mesmo espectro, mas que demonstram ter alto rendimento.

Isto é, claramente, discriminação! Discriminação vinda de um profissional de saúde que deveria, acima de tudo, incentivar as pessoas a trabalhar todas as vertentes (pessoal, social e educativa) e não desacreditar uma criança de apenas 8 anos, com uma vida pela frente; de um profissional de saúde que deveria tratar todos os meninos por igual, independentemente das suas capacidades.

É triste! Simplesmente lamentável! E inaceitável numa sociedade que deveria ser justa e respeitar os direitos de TODAS as crianças.

E é tudo por hoje!

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