quarta-feira, 27 de julho de 2016

O meu filho tem uma deficiência?

Fevereiro de 2011

Este é um tema muito sensível a pais e mães com filhos diagnosticados com perturbações do espectro do autismo, sendo, muitas vezes, gerador de alguma discussão, até porque o autismo afecta de diferentes formas as habilidades de cada criança, tanto ao nível comportamental como sensorial, podendo este ser mais evidente nuns casos do que noutros.

Afinal, o autismo é uma doença, uma deficiência ou, simplesmente, uma forma diferente de ver o mundo?

De acordo com o conceito, autismo é um distúrbio neurológico complexo, caracterizado por comprometimentos significativos e persistentes na interacção social (tais como compartilhar emoções, entender como as pessoas estão se sentindo, expressar empatia ou manter conversações), na comunicação verbal e na comunicação não-verbal (apontar, gesticular e fazer contacto visual), bem como por comportamentos restritos e repetitivos (tais como repetir palavras ou acções, brincar com coisas deforma incomum - girar objectos, enfileirar brinquedos - ou insistir em seguir rotinas ou cronogramas rígidos), sendo estes grandes obstáculos à independência e autonomia. Assim, de acordo com a definição científica, o autismo é uma deficiência, sendo, inclusive, a pessoa autista beneficiária dos direitos de pessoas com deficiência, segundo a lei em vigor.

Mas para nós, pais e mães, é difícil fazer esta ligação entre o autismo e a deficiência, sendo mais fácil caracterizar os nossos filhos pela forma singular e especial com que encaram o mundo que os rodeia. Aos nossos olhos, gostamos de pensar que eles apenas têm perspectivas da realidade diferentes, sendo portadores de uma pureza e sinceridade incríveis. E é aqui que as grandes divergências surgem porque, se há pais de crianças com esta perturbação em que as características são mais atenuadas, sendo estas crianças consideradas de alto funcionamento, não aceitando os seus pais a palavra deficiência, outras crianças há com um grau mais acentuado e dificuldades bastante mais vincadas (como é o caso do meu filho), acabando os seus pais por encarar com mais naturalidade o uso dessa palavra.

A grande questão é que a deficiência tem como ponto de partida a tipicidade, sendo um conceito que apenas tem sentido com base no padrão, acabando por esquecer que cada ser é único.

Assim sendo, o meu filho diagnosticado com autismo clássico tem uma deficiência do ponto de vista típico. Mas também tem muito a ensinar a esta sociedade, podendo pensar que a deficiência está sim em várias características da nossa tipicidade, nomeadamente na incapacidade de muitos pensarem de forma inclusiva.


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7 comentários:

  1. Obrigada Carla, por mais um bocadinho de informação. Penso que há muita falta de conhecimento acerca do autismo. Eu por mim falo!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu aconselho ir ao youtube e pesquisar por Flavia Calina. Ela tem uma série sobre o autismo, com uma psicologa, e os videos são muito explicativos e uteis. Acho que vai adorar!

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  4. Os nossos meninos têm um défice na comunicação, interação social e por isso sim, têm uma deficiência. A questão é que a palavra ainda tem uma conotação negativa e dai a relutância de muitos pais de pessoas com autismo não quererem associá-la aos seus filhos. Porque, como sabes, a palavra deficiência é associada à falta de inteligência e à incapacidade intelectual, aspecto que muitas pessoas com autismo não têm.
    Quando digo que o meu filho tem autismo, as pessoas fazem aquele olhar de "coitadinho" e uma das perguntas que me fazem é se ele é inteligente e se está numa escola "normal". O meu filho é das pessoas mais inteligentes que eu conheço mas tem as dificuldades características do autismo, agora bem mais atenuadas, fruto de muito investimento de tempo e trabalho.
    Há que sensibilizar para a palavra deficiência para lhe retirar a conotação negativa que ainda tem...
    <3

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    Respostas
    1. Claro que sim, Ana! E eu entendo que muitos pais se neguem a usar a palavra deficiência. (Eu não uso "deficiente"!)Mas também se tem de perceber que cada caso é um caso e não podemos ser fundamentalistas.
      O M. tem características bem acentuadas, apesar do grande trabalho que temos para que se vão atenuando, e das raras vezes que uso a palavra é comum ouvir "O M. não tem uma deficiência, é um menino especial!".
      Sim, o M. é um menino especial. Ele e mais 4 que tenho em casa. Mas o M. tem outras características atípicas, que o tornam diferente e fazem ter mais dificuldades.
      O final do meu post tenta que a conotação negativa dada à palavra seja questionada, visto que a deficiência é muito relativa, dependendo do posto de vista, tendo todos muitos a aprender e a ensinar, com ou sem ela.

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    2. Também me perguntam se a miuda tem "problemas" qo que respondo que ela tem os problemas próprios da idade. Se perguntam se é "saudável", eu respondo felizmente tenho dois filhos muito saudáveis, só com aquelas doenças próprias dos miúdos. ;)

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