quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Menos dedos apontados, por favor!


Vivemos num mundo onde é super fácil falar dos outros, apontar o dedo e dar palpites sobre a sua vida. E é realmente tão fácil falar, não é?
Na realidade muitas dessas criticas/palpites/sugestões vêm de quem não sabe nada da nossa vida, nem tem a capacidade de se colocar no nosso lugar.
Para essas pessoas a atitude mais sensata seria seguirem a sugestão de Clarice Lispector, que diz: “Antes de julgar a minha vida ou o meu carácter, … Calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar”.
Isto é um mandamento que deve ser seguido na generalidade mas, neste momento quero dar-lhe ênfase e direccioná-lo para quem tão facilmente tem algo a dizer, de pouco construtivo, às mães de crianças com necessidades especiais, vulgo deficiência.
Só por si, não é fácil ser mãe de uma criança com deficiência, que exige de nós muito mais do que uma criança dita “normal”. Se tivermos constantemente dedos apontados na nossa direcção, pior um pouco.
Atrevo-me a dizer que menos julgamentos e mais mãos estendidas (em sinal de auxílio) têm, pelo contrário, a capacidade de tornar menos árdua esta realidade.
Acredito (e acreditem também!) que todas as mães, tal como eu, amam os seus filhos e fazem o melhor que sabem, podem e lhes está ao alcance em prole do bem-estar e bom desenvolvimento do seu rebento. Por esta razão, são realmente dispensados comentários pouco positivos, críticos e acusadores, de quem nada sabe e agradece-se distância da estupidez e ignorância humana.

Só para terem noção, deixo o exemplo de algumas pérolas, algumas que me foram dirigidas, outras que ouvi/vi serem ditas a outras mães:
- Estás obcecada! Não te interessa mais nada para além que pesquisar sobre esse diagnóstico.
- A criança não anda ou não fala ou ainda usa fralda em idade avançada… É falta de estímulo. Devias "puxar" mais por ela.
- Vacinas a criança… Que horror, já ouviste dizer que as vacinas têm componentes que podem desencadear problemas?
- Pensas em não vacinas… Que irresponsável! É a saúde pública que está em causa. E se mais tarde a criança for afectada pela doença para a qual não a vacinas?
- Ainda tens alturas em que choras… É falta de aceitação.
- Não choras… Estás em negação ou não queres saber da criança.
- Não fazes dieta… Devias fazer.
- Fazes dieta… Se calhar não fazes bem.
- Desejas a cura/resolução do problema… não aceitas o dom que Deus te deu em seres uma mãe especial. Não foste escolhida por acaso. 
- Dás medicação… Foste pelo caminho mais fácil. 
- A criança tem comportamentos desadequados… É excesso de mimo e má educação.
….

Posso dizer-vos que a última que ouvi, muito recentemente, foi “O Martim com um ano não tinha nada. Não sei o que lhe fizeste para ter ficado assim!” Reparem, o que eu fiz! Escusado será dizer que quem o disse nem sequer tem noção que o meu filho, com pouquíssimos meses de vida, já demonstrava alguns sinais associadas ao seu diagnóstico. Enfim…

Parece que calçar os sapatos dos outros tem mesmo sido missão impossível para algumas pessoas. Mas fica o conselho, se não podem ajudar, também não atrapalhem.
E lembrem-se sempre que cada criança é única e aquilo que é aplicável ao vosso filho pode não ser aplicável a outra criança.

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1 comentário:

  1. Tenho reparado que qualquer coisa que aconteça é sempre culpa da mãe não é? Adoram apontar o dedo as mães, mesmo nas coisas mais básicas como por exemplo "está constipado foi a mãe que não o agasalhou".
    Sinceramente passe à frente estas críticas destrutivas e não dê a mínima importância porque realmente ninguém se pode colocar na sua pele.

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